O que move a semana
O clima de aversão ao risco prevaleceu nas bolsas dos EUA e do Brasil nesta segunda-feira. O Nasdaq, pesado em tecnologia, recuou 2%, fechando em bear market pela primeira vez desde março de 2020, ao acumular queda de mais de 20% desde o pico mais recente. Por aqui, o Ibovespa caiu 1,6%, indo para baixo dos 110 mil pontos.
O mercado segue preocupado com os avanços da invasão russa, a inflação global e os próximos passos do Fed, que decide sobre o juros dos EUA na quarta-feira, 16. No mesmo dia, o Copom define a Selic.
Com apostas de um aperto monetário mais agressivo pelo banco central americano, os rendimentos dos títulos de 10 anos do governo dos EUA atingiram a casa dos 2,14%, o maior patamar desde julho de 2019.
O aumento das restrições na China por conta de um novo surto de casos de Covid também pesou no pregão. O país enfrenta seu pior surto desde o auge da pandemia em 2020, com grandes cidades como Shenzhen correndo para limitar a atividade comercial.
No mercado de petróleo, o WTI chegou a romper os 100 dólares o barril na mínima do dia, mas encerrou a sessão em 103,01 dólares o barril, com queda de 5,8%. Ainda assim, no ano, acumula alta de mais de 30%.
Nesta noite, os futuros da commodity estendiam perdas (WTI recuava mais 4%) antes da divulgação de dados econômicos chineses. Na terça-feira, serão reportados os números da produção industrial e vendas no varejo.
Há expectativa também para amanhã da retomada da quarta rodada de negociações entre Rússia e Ucrânia. A conversa teve início hoje, mas foi suspensa sem que os países chegassem a um acordo.
Já na quarta-feira, a Corte Internacional de Justiça, conhecida como Tribunal de Haia, vai anunciar seu veredito sobre a denúncia da Ucrânia contra a Rússia pela invasão militar. O governo ucraniano acusa o país vizinho de crime de genocídio.
Vale a leitura! Roberto Attuch avalia, em artigo para o Brazil Journal, a efetividade das sanções como guerra econômica entre países (como as que vêm sendo aplicadas à Rússia por conta da invasão na Ucrânia) e por que o mundo parece estar caminhando para uma nova arquitetura financeira global.
Novidade na Ohmresearch: nesta segunda, adicionamos à nossa cobertura os 100 BDRs mais líquidos da B3, por meio da nossa parceria com a Morningstar. Os relatórios ficarão disponíveis sempre neste link. Começamos hoje com as publicações de Coca-Cola (COCA34), Pepsi (PEPB34) e JD (JDCO34). Confira abaixo:
Visão do gringo
Apesar da cautela dos investidores, o estrategista global Barry Knapp escreve, em relatório, que espera por uma reação favorável das ações à reunião do Fomc na quarta-feira.
Na nota desta semana, ele explora os efeitos na macroeconomia e mercados do aumento da taxa de juros pelo Fed, seguida pelo início da contração do balanço.
Para Knapp, o mercado está bem posicionado para engatar uma recuperação, após forte correção diante da expectativa de normalização da política do Fed.
Ele aponta que ocorreu uma contração significativa no valuation do mercado acionário, tendo em vista que o prêmio de risco russo empurrou as taxas de juros reais de volta para as mínimas de várias décadas, apesar da inflação em patamares mais altos.
A combinação disso é que o prêmio de risco para ações agora é excepcionalmente elevado.
A programa de compra de títulos do Fed pode afetar o mercado por alguns canais: nas expectativas da trajetória das taxas de juros, na variação das taxas reais e na volatilidade. A volatilidade é o que ele estava mais preocupado.
No entanto, com a alta recente do índice MOVE de volatilidade da renda fixa, ele acredita que os preços estejam em patamares justos para surpresas com um balanço mais hawkish. Por esse motivo, acredita em uma reação positiva das ações ao Fomc.
Além disso, ele vê em grande parte um impacto positivo da normalização da política monetária na lucratividade dos bancos, uma vez que vai remover a liquidez excessiva contraproducente do sistema, iniciando um processo para acabar com a má alocação de capital.
A última reunião do BCE serviu como um alerta, comenta. “A decisão de encerrar o programa de compra de títulos mais cedo, devido à previsão de inflação acentuadamente mais alta, foi um lembrete de que a política monetária do mundo desenvolvido é incrivelmente acomodatícia”.
“Embora os planos de iniciar uma contração no balanço possam inicialmente ser hostis ao mercado de ações, compraríamos qualquer queda relacionada“, complementa.
Além disso, ele vê em grande parte um impacto positivo da normalização da política monetária na lucratividade dos bancos, uma vez que vai remover a liquidez excessiva contraproducente do sistema, iniciando um processo para acabar com a má alocação de capital.
A última reunião do BCE serviu como um alerta, comenta. “A decisão de encerrar o programa de compra de títulos mais cedo, devido à previsão de inflação acentuadamente mais alta, foi um lembrete de que a política monetária do mundo desenvolvido é incrivelmente acomodatícia”.
“Embora os planos de iniciar uma contração no balanço possam inicialmente ser hostis ao mercado de ações, compraríamos qualquer queda relacionada“.
Apesar do prêmio de risco elevado, não há evidências de deterioração nas perspectivas de lucros nas revisões dos analistas. As projeções de lucro para as empresas do S&P 500 subiram marginalmente, de novo, esta semana, comenta. Ele tem recomendação overweight no índice S&P 500 Equal Weight (SPW), no setor de energia (mesmo com o rali recente, vê como barato), financeiro, industrial e de saúde. Leia o relatório completo abaixo.
Relatórios em destaque
ZIM: um ADR barato, com potencial de alta de 300% e gordos dividendos
O analista Ricardo Fernandez, especialista em América Latina, publicou um relatório sobre a ZIM, empresa de Israel e 10ª maior em transporte de contêineres do mundo. A companhia tem ADRs negociados na Bolsa de Nova York sob ticker: ZIM.
A companhia encerrou 2021 com Ebitda de 6,5 bilhões de dólares, crescimento de 534% na comparação com o ano anterior. Para 2022, tem um guidance de geração operacional de caixa de 7,1 a 7,5 bilhões de dólares, com taxas de TEU (contêiner padrão de 20 pés) continuamente altas. Além disso, anunciou dividendos de 17 dólares (data ex-dividendos em 22 de março), o que representa um dividend yield (dividendos sobre o preço da ação, DY) de 20%.
Fernandez escreve que o papel está extremamente barato, sendo negociado a menos de duas vezes o P/L estimado para 2022, mesmo depois dos dados surpreendentes da empresa no ano passado.
O valor do frete médio mais do que duplicou de um ano para o outro (2.786 dólares/TEU em 2021 vs 1.229 dólares/TEU em 2020), mas o mercado continua estimando um retorno de 1.000 dólares/TEU para 2023.
Embora provavelmente esse preço não seja sustentável nos próximos anos, os números ainda devem se manter próximos das máximas no primeiro semestre de 2022 para, só depois, mostrarem um gradual declínio. Na visão dele, isso muda a avaliação de longo prazo do setor e deve fazer com que o mercado reprecifique os papéis da ZIM, à medida que números melhores forem sendo reportados.
A expectativa do analista é que o P/L migre do atual patamar de duas vezes para cinco vezes, o que proporcionaria ganhos consideráveis mais o retorno com dividendos. Ele tem recomendação de compra para o ADR, com preço-alvo em 320 dólares para este ano, o que representa um potencial de valorização de 305% frente ao fechamento da última sexta.
Como o petróleo da Venezuela voltou ao radar dos EUA depois da guerra
Carlos Brandt, consultor e pesquisador sobre geopolítica e petróleo, escreveu sobre a reaproximação dos EUA e Venezuela, no começo deste mês, para discutir sobre a comercialização de petróleo, após Biden proibir importações de petróleo e gás natural da Rússia. Esse foi o primeiro grande movimento na tentativa de diálogo entre os dois países desde que cortaram as relações em 2019.
Apesar da reunião não ter abordado acordos específicos, Caracas começou a moderar seu discurso de apoio irrestrito à Rússia após a reunião com os EUA, especialmente depois de estar ciente de que a situação internacional abre oportunidades que até algumas semanas atrás eram inesperadas, escreve Brandt.
Embora ainda haja muitos pontos a serem tratados, o governo venezuelano avalia, na atual situação, uma possibilidade de estabilização política e econômica, principalmente tendo em vista as eleições presidenciais de 2024, comenta o consultor. O relatório foi publicado na Ohmresearch e, posteriormente, traduzido para o site InfoMoney.
Na linha de fogo: o impacto da guerra nas moedas do leste europeu
O estrategista em moedas e juros Gautam Jain publicou relatório sobre o impacto da guerra nas moedas do leste europeu. Na visão dele, o índice dólar (DXY) deve permanecer forte, com risco para maior valorização (veja: Uma perspectiva sobre o dólar e suas implicações nas moedas emergentes).
No geral, ele acredita que o ambiente atual não é favorável às divisas de países emergentes, em especial, às do leste europeu.
Desde o início da invasão na Ucrânia, em 24 de fevereiro, as moedas do leste europeu se destacam como as de pior desempenho, junto com a lira turca (TRY), enquanto o DXY acumula alta de 1,8%.
Ele comenta que o principal driver para esse desempenho inferior é o euro sob pressão, uma vez que essas moedas estão intimamente ligadas à zona do euro pelo comércio e a alta do dólar tem levado, como era de se esperar, ao enfraquecimento do euro. Leia a análise na íntegra abaixo:
Iochpe-Maxion (MYPK3): resultado do 4T bastante favorável; mantém compra
A Iochpe-Maxion (MYPK3) reportou balanço no dia 9 de março. Os números vieram bastante favoráveis, com crescimento e melhora de margem nas principais linhas, comenta o analista Caio Amoedo. A recomendação de compra foi mantida, com preço justo em 18,96 reais, dando potencial de valorização de 58% frente ao fechamento da última sexta-feira. Os papéis negociam com um P/L projetado de 5,83 vezes para 2022, contra a média de 7,02 vezes dos últimos trimestres.
Do lado dos riscos, ele aponta que, caso a guerra entre Rússia e Ucrânia se estenda para os meses seguintes, os próximos resultados da companhia podem apresentar bastante volatilidade. Tal cenário poderia levar a uma escalada do aumento dos juros globais para segurar a inflação, o que prejudicaria a demanda dos principais clientes da empresa.
Marfrig (MRFG3): mais um ano estelar; o que vem pela frente?
A Marfrig (MRFG3) reportou na semana passada seu resultado do 4º trimestre. O analista William Gonçalves comenta que, mais uma vez, a companhia teve um ano estelar, com forte performance operacional, guiada principalmente pelos altos preços de carne na América do Norte e do Sul.
A receita cresceu 31% no último trimestre do ano passado e 27% em 2021, quando comparado com 2020, puxada especialmente pelos resultados da América do Norte.
Apesar do desempenho, ele manteve recomendação neutra para a ação, apontando que ainda é preciso mais cor sobre a estratégia de investimento da empresa na BRF depois de ter se tornado controladora relevante.
Além disso, na sua opinião, a América do Norte se tornou mais relevante na base consolidada da companhia. Com isso, o crescimento da receita e expansão de margens pode desacelerar nos próximos trimestres devido a uma reversão do ciclo do gado nos Estados Unidos. O preço-alvo é de 31,06 reais, o que representa um potencial de alta 53% frente aos preços atuais.
Nossas Carteiras
10 Ações para a Semana, por Roberto Attuch
Foram incluídos os papéis da Klabin (KLBN4), por sua característica defensiva. Diante da situação de guerra, podem ajudar a trazer algum equilíbrio ao portfólio. Entraram também as ações da Cosan (CSNA3), uma vez que a alta do petróleo deve levar ao aumento do consumo de etanol. Saíram Companhia Brasileira de Alumínio (CBAV3), citando que os preços já atingiram seu alvo, e Vale (VALE3), por conta das incertezas.
Carteira Agile Profit Gain
A carteira gráfica manteve foco na gestão de risco e consistência, optando por papéis em tendência de alta ou em regiões de suporte, com expectativa de reversões. Para esta semana, saíram: CPLE3, LEVE3, KLBN11, ITUB4 e PETR4. Em seus lugares, entraram: VALE3, B3SA3, MRFG3, ABEV3 e PRIO3.
Carteira Agile Long & Short
São recomendadas duas operações de arbitragem por semana. Confira os novos trades abaixo:
Recomendações abertas
Estratégia Swing Trade Agile
Recomendação de trade para abertura no pregão de terça-feira, 15.