Recuperação econômica, já em andamento, enfrentará ventos contrários

As sondagens econômicas referentes à parcial de junho têm trazido sinais encorajadores para a recuperação da atividade nas principais economias, em particular nos EUA e na Europa.

Sinais alvissareiros também têm sido emitidos nos mercados financeiros globais, onde a aversão ao risco continua a refluir, favorecendo altas das bolsas de valores e recuperação dos preços das commodities.

Esses indícios auspiciosos devem ser interpretados com cautela, já que sondagens podem superestimar a velocidade da recuperação e os mercados estão operando num contexto de liquidez excepcionalmente elevada.

Avaliamos que o cenário mais provável continua sendo de recuperação global já a partir do 3º trimestre, mas em ritmo moderado e, provavelmente, errático.

Os riscos de reinfecção por coronavírus e a diluição dos efeitos positivos das agressivas medidas de estímulo adotadas nos últimos meses tendem a reduzir o ímpeto da recuperação global mais para o final do ano.

No Brasil, as estatísticas até agora conhecidas apontam para uma contração da atividade em linha com as projeções contempladas em nosso cenário base – que antevê uma contração de 5,6% para o PIB em 2020.

Os resultados recentes, que no geral vieram menos ruins do que o antecipado pelos mercados, contribuíram para interromper a tendência de deterioração das expectativas econômicas.

O grau de incerteza em relação à recuperação da atividade doméstica também segue bastante elevado, como admitido pelo próprio Banco Central na recém-divulgada ata do Copom.

Como temos argumentado, além dos riscos associados à propagação da pandemia, incertezas políticas e fiscais são fatores a conferir volatilidade aos mercados de ativos e irregularidade à recuperação doméstica.

Também incertos são os estímulos adicionais a serem adotados no Brasil: o governo parece resistir em estender integralmente o auxílio emergencial; e o Copom sinaliza maior cautela na condução da política monetária.