Political View #002 – E agora Queiroz?

Na semana que passou (15 a 19/06), o noticiário foi marcado pela prisão de Fabrício Queiróz, ex-assessor do então deputado estadual e hoje senador Flávio Bolsonaro. A notícia, claro, é negativa para o Planalto. Mas qual a extensão do impacto?

Do ponto de vista simbólico, operações policiais são sempre um prato cheio para a mídia e oposição, que certamente irão se valer das notícias e das imagens no curto prazo. Na tarde de quintafeira as buscas por “Queiróz” já haviam aumentado no Google Trends e vários textos e imagens já
circulavam nas redes sociais, como essa acima.

Acredito, no entanto, que o alcance ainda seja limitado, ao menos entre os bolsonaristas. Em primeiro lugar, o “caso Queiróz” não é exatamente novidade, mas acompanha a família Bolsonaro desde, pelo menos, a campanha eleitoral de 2018. Não se trata, portanto, de uma “bomba” que explodiu, mas de uma novela já conhecida que ganha novo capítulo.

Se a novela já existe, porque deveríamos esperar que ela mude a opinião do eleitor que não se importou com a “gripezinha” ou com a demissão de Sérgio Moro? O público mais suscetível a notícia não é o eleitor bolsonarista ideológico, mas o bolsonarista pragmático, que já vinha de um movimento de abandono presente nos últimos três meses (no relatório “vai ter impeachment” escrevo e apresento dados sobre esse movimento dos bolsonaristas).

De acordo com pesquisa tracking da XP/IPESPE – na qual pessoas são entrevistadas todos os dias reponto aquelas que foram entrevistadas em datas anteriores – até as 18h do dia de hoje (19/06), não havia mudança relevante na avaliação do governo. Claro que a notícia ainda é recente, mas se viesse como bomba, já teríamos encontrando estilhaços no chão.

Isso não quer dizer que tudo se resume à ruído. A notícia é claramente negativa e expõe o presidente, ainda que indiretamente. A essa altura, qualquer fragilidade adicional conta negativamente na capacidade de negociação com o Congresso e possíveis avanços nas pautas do governo. Além disso, a investigação continua, foram apreendidos vários documentos de Queiróz, bem como de antigos funcionários de Flávio, que podem trazer novos fatos à mesa. Além disso, o próprio Queiróz pode se
tornar motivo de preocupação, com uma delação premiada.


Enquanto o noticiário é negativo, avanços importantes foram feitos em outras frentes. A primeira delas é a demissão de Abraham Weintraub, agora ex-ministro da educação. Convenhamos, poucos vão sentir falta. Diferentemente de Mandetta, que vinha numa ascensão, ou de Sérgio Moro, símbolo da luta contra a corrupção, Weintraub não tinha capital político e era controverso a ponto de constranger até mesmo a ala mais ideológica do bolsonarismo. Numa pesquisa realizada em fevereiro deste ano, Weintraub era o ministro mais rejeitado pelos brasileiros (1).

Para quem não se lembra, Weintraub afirmou na fatídica reunião ministerial vazada à impressa que “os ministros do STF deveriam ser todos presos”. Desde então, o judiciário pedia por sua cabeça. O lado relevante da notícia não é a demissão, mas a sinalização de “paz” do governo para o Supremo Tribunal Federal. Ela chega em hora estratégica, pois o “cerco jurídico” contra o governo vinha se fortalecendo em diferentes frentes, como a investigação da suposta interferência na polícia federal, o
inquérito das Fake News, e cassação da chapa no TSE.

Enquanto sofria com a prisão de Queiróz nos noticiários, o governou conquistou duas vitórias importantes no Plenário da Câmara dos Deputados: a MP 927, que dispõe sobre a flexibilização dos contratos de trabalho, e a MP 932, relativa à contribuição do Sistema S. Ambas as medidas serão encaminhadas agora para discussão no Senado Federal.

As vitórias já refletem a recente reaproximação do governo com os partidos de centro. A MP 297, por exemplo, foi amplamente criticada por setores trabalhistas, como as centrais sindicais, e duramente combatida no Plenário, com tentativa de adiamento da votação. Ainda assim, o governo
conseguiu garantir 332 votos favoráveis (132 contrários).

A MP 932, que reduzi a contribuição ao Sistema S, também foi aprovada no Plenário da Câmara. Entretanto, ao invés de durar três meses como queria o governo, a redução terá validade de apenas dois meses. A negociação foi importante para evitar uma batalha tão desgastante quanto a da MP 297. Após esse acordo entre os líderes, a MP foi aprovada com folga.

De forma geral, tanto a demissão de Weintraub quanto as vitórias no Plenário sinalizam disposição do governo em ceder e negociar, talvez não por boa vontade, mas por estratégia de sobrevivência –realpolitik. Apesar de agitada, a semana traz ruídos que não devem ser superestimados,
mas que devem permanecer no radar e serem monitorados. Qualquer novidade será discutida na série “political view”, não deixe de acompanhar na Omninvest!

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(1) https://valor.globo.com/politica/noticia/2020/02/17/weintraub-e-o-mais-impopular-da-esplanada.ghtml

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