Ohm Day: nova ordem financeira global e o coquetel tóxico dos mercados

A primeira palestra do Ohm Day, evento promovido pela Ohmresearch para clientes, no dia 18 de maio, abordou sobre a ameaça do dólar como moeda de reserva e o coquetel tóxico (Fed atrás da curva, China e sua política de covid zero e guerra na Ucrânia) que tem derrubado os mercados.

Participaram da discussão Roberto Attuch, CEO e fundador da Ohmresearch, Roberto Dumas, economista-chefe do Voiter, e Daniel Miraglia, economista-chefe do Integral Group.

Os debates sobre o dólar como moeda de reserva voltaram à tona com a guerra na Ucrânia. Mas, para os três, ainda é difícil apontar um substituto para a divisa, principalmente porque o mundo ainda é movido pelo petróleo.

“Como o mundo ainda é movido pelo petróleo e o petróleo só pode ser negociado em dólares, isso dá aos EUA praticamente a capacidade de ‘imprimir’ petróleo”, disse Attuch.

Abaixo, os destaques da palestra com Attuch, Dumas e Miraglia:

Attuch

Para o CEO da Ohmresearch, a guerra acelerou a discussão sobre um substituto do dólar como moeda de reserva, já que um dos desdobramentos foi o confisco dos ativos russos.

“Produtores de petróleo, como a Arábia Saudita, ficaram preocupados em ter ativos em dólares, passando a considerar vender em Yuan, enquanto a Índia não obedeceu às sanções e continuou a comprar petróleo da Rússia”.

Embora ainda seja difícil apontar uma alternativa para o dólar, podemos estar vendo o começo de um mundo dividido entre dois blocos financeiros, disse. Um formado pelo ocidente, com o eixo dólar-euro, e outro, comandado pela China.

“Mesmo antes da guerra na Ucrânia, a China já vinha tentando criar um mercado líquido em Hong Kong, em que os vendedores de petróleo poderiam trocar Yuan por ouro”. Vale lembrar do artigo “As sanções contra a Rússia e a nova arquitetura financeira global”, escrito por Attuch para o Brazil Journal, em 14 de março, em que ele também detalhava esta questão (veja aqui). 

Na palestra, ele abordou ainda sobre o coquetel tóxico que tem derrubado os mercados: Fed atrás da curva, a China com sua política de covid zero e lockdowns e a guerra na Ucrânia.

“No começo do ano, muita gente comprou Brasil, que era hedge para inflação global e estava largado pelos investidores. O mercado brasileiro foi destaque, mas depois voltou, porque chegamos em um ponto em que, se commodities subirem mais, não vai adiantar. O Fed vai ter que derrubar”.

“As pessoas perceberam que inflação é um problema político para países centrais. Quase custou a eleição de Macron. Ou seja, tem um limite para sair comprando qualquer mercado emergente como hedge para inflação global”. 

Miraglia

Miraglia comentou sobre os temas dólar, inflação e juros.

Segundo ele, hoje, o mundo não sofre apenas com um choque de demanda e oferta, mas com uma inflação que vem sendo perpetuada por indexação nos preços e salários. “Isso não ocorria desde 1980 e está acontecendo na Europa e EUA”.

“Quanto mais o Fed demorar a agir, mais os juros longos vão subir. A dinâmica da curva de juros pede que o Fed seja mais agressivo”.

Ele apontou que o cenário atual está perigoso para ações e um pouco melhor para bonds. “Quanto mais atrás da curva o Fed ficar, pior será. Mais duro terá que ser o aperto”.

“Temos o price action no pior dos mundos. Os portfólios 60/40 estão perdendo. Perdem nos juros, ações, os hedges não funcionam. Foi isso que quebrou o Long-Term Capital Management”.

Dumas

Com foco na China e nos desdobramentos da sua política de covid zero, Dumas comentou que não vê perspectivas de crescimento na China (com choque de covid, Rússia e lockdowns), sem que governo impulsione a economia por meio de investimentos em real estate e infraestrutura.

“Não adianta baixar taxa de juros com lockdowns (20 cidades na China estão fechadas por conta da covid). A única forma de crescer vai ser com estímulos em real estate e infraestrutura”, disse.

Por isso, ele apontou que está mais bullish com commodities metálicas.

Sobre a possibilidade do yuan entrar como um substituto futuro do dólar como moeda de reserva, Dumas disse que “até poderia, mas só se a conta capital não fosse fechada, o que tem chance quase zero de ocorrer”.

“Esse cenário só seria possível se o governo deixasse de usar os bancos como um braço para estimular a economia, o que impactaria o crescimento e poderia levar à tensão social. Isso seria um problema para a permanência do Partido Comunista. Portanto, é praticamente impossível de ocorrer”, afirmou.

O Ohm Day trouxe também palestras sobre cenário político e eleições 2022, com Rickard Back, Head de Análise Política da XP Investimentos, e perspectivas para commodities e oportunidades, com Gilberto Cardoso, Contribuidor da Ohmresearch. Veja mais aqui.

Gostou do texto?

Então cadastre-se gratuitamente para receber em seu e-mail nossas novidades e ofertas exclusivas.